As minhas memórias vivem muito através da comida, e nestes últimos dias isso tem sido muito visível. As amoras silvestres que acabaram em compota e me trouxeram à memória uma parte das minhas férias de verão da infância e a minha querida avó Cila. E depois disso bastou fazer a compota de tomate, tal qual ela a fazia e como eu sempre faço. O cheiro do tomate com a canela e o limão foi suficiente para me fazer recordar novamente dela e ficar com uma lágrima no canto do olho. Sei que enquanto a cozinha e a comida forem um veículo para recordar a minha avó e as receitas e ensinamentos que ela me passou, ela estará sempre ao meu lado.
Talvez por isso lembrei-me de fazer o gaspacho como ela fazia. Acho que em tantos anos nunca o tinha feito. Não tinha uma receita escrita, mas tinha de memória o sabor e a cor dos ingredientes. E acredito que ela me “guiou” enquanto preparava o gaspacho, para que ficasse igual à minha memória do gaspacho dela.
Era de presença assídua esta “sopa”, nos dias quentes de verão. Sei que ela a fazia principalmente para agradar ao meu pai, que sempre gostou muito de gaspacho.
É a versão do gaspacho à moda do alentejo. Desta vez, não a comemos como “sopa”, mas tal como se come no alentejo, a acompanhar peixe frito. (Que me perdoem o post lamechas, e os mais puristas da gastronomia alentejana se esta receita não for exatamente um gaspacho alentejano…)
Ingredientes para 2 pessoas:
1 tomate médio “coração de boi” maduro
1/2 pepino
1/2 pimento verde pequeno
1 dente de alho
2 colheres de sobremesa de oregãos secos
vinagre q.b.
sal marinho tradicional q.b.
água bem fria e/ou cubos de gelo
fatias de pão alentejano (de preferência com um dia ou dois) para servir
350g de petinga (ou carapau miúdo) arranjado
sal marinho q.b.
farinha q.b.
Preparação:
Lave bem os legumes. Descasque o pepino com um descascador de legumes deixando apenas uma pequena tira de pele alternadamente. Corte depois o pepino ao meio, no sentido do comprimento e, com a ajuda de uma colher raspe as sementes. Corte depois o pepino em cubinhos pequenos, mais ou menos do mesmo tamanho e coloque numa saladeira grande. Corte também o pimento em cubinhos, assim como o tomate, descartando a maior parte das sementes. (Eu não pelei o tomate, mas se preferirem podem fazê-lo). Acrescente depois ao legumes o dente de alho ralado (ou então bem esmagado numa papa com o sal) e tempere com sal, os oregãos secos e uma dose generosa de azeite e vinagre a gosto. Envolva bem.
Acrescente depois a água fria a gosto até obter uma espécie de sopa. Coloque no frigorífico até servir. (Esta sopa deverá servir-se bem fria, e ganha se for preparada com algumas horas de antecedência para os sabores se desenvolverem).
Para as petingas, tempere-as de sal e passe-as pela farinha antes de as levar a fritar em óleo quente até que fiquem douradas e crocantes. Escorra sobre papel absorvente.
Corte o pão alentejano em cubos pequenos e reserve.
Sirva o gaspacho com os cubos de pão, colocando-as apenas na sopa na hora de comer, e acompanhe com as petingas fritas.
Bom Apetite!
4 respostas
Os posts não são lamechas, e a verdade é que a comida muitas vezes remete para recordações relacionadas com pessoas, lugares, e acontecimentos. O cheiro do Outono, dias cinzentos, fumeiro e assados no carvão, lembra-me a ida à feira das Mercês quando íamos fazer o abastecimento de frutos secos para o Inverno (as excursões organizadas pela minha vizinha eram um acontecimento quando era pequena, pois naquela altura os transportes eram muito escassos, e nem todos tinham carro). Por isso, gosto desta sugestão, não só pela receita em si, como pelas memórias que traz. Um grande beijinho e um bom início de semana, Sara Oliveira
Este comentário foi removido pelo autor.
que bom aspecto!
Beijinhos,
http://sudelicia.blogspot.pt/
Já acompanho o seu blog alguns anos, mas nunca aqui comentei nada. Mas ao ver esta receita do gaspacho não resisti…os meus pais são alentejanos e a minha mãe faz o gaspacho assim, tal como o seu.
Os parabéns pelo blog, pelas receitas, já experimentei algumas, deliciosas. Para finalizar que tudo corra bem com o nascimento do bebé. Beijinhos, Fátima