Bilharacos

A minha avó Celeste não era uma mulher de muitas receitas ou de grandes culinárias. Coisas simples como o frango caseiro assado no forno de lenha, os rojões, os bifes e o peixe cozido com batatas e legumes. Amassava e cozia o pão e os folares. Fazia chouriços. 

E fazia aletria daquela que se cortava à faca em quadrados, e fazia bilharacos. Tudo sem receita. Tudo a olho com a experiência de quem repetia aquilo muitos e muitas vezes.

Tenho presente as receitas na memória dos sabores e dos cheiros. A minha avó ainda me passou a receita dos folares, muito vaga e com quantidades enormes de farinha e ovos, e outras de ingredientes em quantidades muito pouco precisas, mas que foi relativamente fácil, após algumas tentativas de os tornar semelhantes ao que ela fazia. Outras não tinham quase receita, como o frango ou os rojões, que eram principalmente ingredientes de qualidade e paciência…

Mas a aletria e os bilharacos, as duas únicas receitas doces que me lembro que ela fazia ficaram assim meias perdidas. Fazia tudo a olho. Não pesava, nem media nada e aquilo ficava sempre igual. Sempre bem. Com a sabedoria de quem já tinha feito aquilo muitas e muitas vezes. Depois de muitas tentativas lá chegamos à receita de aletria tal e qual a fazia – porque também não fui a tempo de que partilhasse comigo a receita – porque na altura em que viveu connosco, e quando podia ter aprendido todas essas receitas, ainda não era assim tão importante para mim ficar com estas memórias.  E ficamos também sem saber bem como fazer os bilharacos, cuja memória é sempre de a ver mexer um grande alguidar à mão, com uma massa líquida e cor de laranja e o cheiro da aguardente caseira que a massa levava…

Eu a minha mãe tentamos muitas vezes fazer. Muito moles, muito rijos, muito massudos… Foi difícil aprender a consistência e perceber que ficavam parecidos aos da avó Celeste. Descobri que usar a abóbora assada era bem melhor do que cozer e espremer a abóbora e que em  nada alterava a consistência. E de repente descobrir uns bilharacos que são a minha memória da avó Celeste.

E hoje, no dia de aniversário dela, há bilharacos. Porque sim.


Próximo Workshops:

Tema: Mesas de Festa


Porto – 15 de Dezembro – 15h Workshops Pop -Up – ÚLTIMAS VAGAS

Inscrições diretas aqui: 

https://www.workshops-popup.com/workshop/receitas-para-as-festas-que-vem-ai-por-joana-roque-2/?tickets_process=#buy-tickets


Ingredientes para 15 unidades:


150g de abóbora previamente assada (e sem casca ou sementes) – usei butternut

2 ovos

60g de farinha

30g de açúcar

1 colher de sopa de aguardente

1 colher de chá de fermento em pó


Açúcar amarelo e canela em pó para polvilhar


Preparação:


Com o robot de cozinha ou com a varinha mágica, triture a abóbora até obter um puré homogéneo. Misture depois o açúcar, a farinha, o fermento os ovos e a aguardente, até obter uma mistura mole e ainda bastante líquida. Deixe repousar cerca de 1 a 2 horas.

Aqueça depois o óleo. Frite colheradas de massa no óleo de quente, até que os bilharacos fiquem dourados e inchem.

Escorra ligeiramente sobre papel absorvente e passe pela mistura de canela e farinha quando estão ainda quentes.


Bom Apetite!

13 respostas

  1. Aqui por Abrantes e olhando para a receita, penso que os vossos bilharacos são os nossos Velhoses, os da minha avó deixaram memórias fantásticas, o fundo do alguidar onde escorriam já fritos, ficava todos cheiinho de gordura e completamente cor de laranja, por causa da abobora, neste caso cozida.
    Não havia como os da minha avó, mega gordurosos e um verdadeira delicia.
    Aida

  2. Há receitas que ficam na memória, especialmente quando são as de família!
    Não tenho as memórias das avós, pois esta faleceram quando era bebé, mas tenho as da minha mãe com os seus bolos (poucos) e cozinhados.
    Recordo da minha mãe a fazer as filhoses, o pão de ló e a torta abafada, sempre a olho. Embora tenha a receita base da torta e das filhoses, de um livro de culinária e uma Teleculinária bem velhinhos, nunca consegui reproduzir tal como a minha mãe fazia.
    Ficam as memórias e os sabores, e as tentativas aproximadas!
    Irei experimentar estes bilharacos, pois é uma maneira muito simpática e docinha de iniciar as hostilidades natalícias.

    Um grande beijinho,
    Sara Oliveira

    1. A minha também 🙂
      E usava vinho do porto em vez da aguardente, depois só se comiam no dia seguinte para estarem ensopadinhos em calda!

  3. Os meus, que aprendi com a minha Mãe são iguais, a olho, a abóbora a escorrer de um dia para o outro pendurada na torneira do fogão de lenha (que ainda tenho e uso) e vinho do Porto quando não há aguardente à mão. E pensava que apenas aqui pela zona de Estarreja se chamavam bilharacos pois quando falo neles a outras pessoas de outros locais não sabem o que é 🙂
    Boas Festas a todos.

    1. Por favor Maria, será que me pode dizer como fazê-los?. Só encontró receitas deles fofinhos e eu lembro-de deles achatadinhos e húmidos. Estoy quase a desistir��

  4. Olá Joana! Gostei desta receita e queria experimentar fazê-la mas a última parte confundiu-me… É mesmo mistura de canela e farinha? Não será de canela e açúcar?
    Obrigada!

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