A minha avó Celeste não era uma grande cozinheira. O único doce que fazia era aletria. Lembro-me que ela e o meu avó comiam todos os dias ao jantar peixe cozido com batatas e legumes e ovos caseiros das suas galinhas.
Mas lembro-me do frango que ela fazia no forno a lenha e que eu sempre adorei. E do pão quente com manteiga, daquela manteiga que vinha embrulhada num papel branco e que o meu avô ia comprar ao mini-mercado. E dos folares da altura da Páscoa.
Lembro-me também das canjas e do arroz de cabidela feitos sempre com os frangos e as galinhas que eles criavam, e a quem eu e a minha irmã adorávamos ir dar milho e correr atrás delas
Lembro-me dos porcos. E de ver a minha avó a preparar-lhes a lavagem com abóbora que eles comiam. Lembro-me das matanças do porco. Do porco aberto ao meio a escorrer na “casa do forno”. Dos alguidares de barro cheios de carnes. Das carnes para os chouriços. Da salgadeira de madeira onde ainda se guardavam algumas carnes. E das tinas de azeite onde havia chouriços.
E lembro-me do cozido. Feito com aquelas carnes. E com legumes acabados de apanhar
E, principalmente, lembro-me dos rojões. Da panela enorme, ao lume, a cozinhar durante quase um dia inteiro a carne do porco. E dos frascos que depois se enchiam com a banha que daí resultava. E depois das travessas cheias de carne dourada com um sabor inconfundível.
Estes não podem ser, jamais, os rojões da minha avó. Mas foram uma lembrança dela à minha mesa.
Ingredientes para 2 pessoas:
600gr de carne de porco (de preferencia porco preto e com gordura!)
1 pedacinho de toucinho (sem carne)
sal
Preparação:
Num tacho de barro coloque o toucinho e a carne de porco, tudo partido em pedaços. Tempere de sal e leve a lume brando e deixe cozinhar lentamente.
Inicialmente vai ver a carne a largar água, e a ficar com bastante molho. Depois a água começará a evaporar e a carne começará a fritar na gordura que entretanto se vai formando. Deixe ir confitando a carne nesta gordura, mexendo de vez em quando.
O resultado final deverá ser uma carne dourada e um pouco seca. (O processo é demorado. Tenha sempre o lume baixo. No meu caso e com esta quantidade de carne demorou cerca de 2 horas a ficar no ponto!)
Sirva com batata cozida salteada na gordura de fritar a carne e legumes cozidos. (Faz mal, eu sei, mas um dia não são dias!)
Bom Apetite!
14 respostas
Divinal… Adorei ler as tuas recordações e é giro ver que há coisas que nos ficam, memórias gustativas que guardamos…
Ficaram uns óptimos rojões! =)
Beijinho*
Adorável!!!! Também eu tenho essas lembranças e ao ler as suas e ao ver a fotografia dos rojões fiquei com saudades…
É sempre uma delícia consultar o seu blog.
Comida tipicamente portuguesa… divinal 🙂
Bjs
É assim que fazemos renascer as nossas memórias mais íntimas e homenagear os entes queridos… Memorável pelos cheiros e odores que conseguiste transportar até mim! Obrigada
Têm muito bom aspecto!
Qualquer dia falo dos rojões aldrabados que a minha mãe faz 😛
Beijinho
Com as tuas palavras fizéste-me recordar também a minha querida avó materna a a sua vida na aldeia… Obrigada!
hum… gosteiiiii… =D
Que boas lembranças estas do meu tempo de menino. Nada é como antes!
Vou agorinha mesmo fazer rojões como fazia a minha mãe.
Beijinhos e parabéns pelo blog
MCS
Ao ler as suas recordações
Identifiquei-me, por vezes. Tive saudades de tudo o que se cozinhava "lá em casa".
Senti o cheiro dos rojões.
Não vou conseguir fazer os rojões "daquela época".
Não sei, as carnes não são as de casa, os sabores são diferentes mas dará sempre para recordar.
Gostei do que li, vou seguir este blogue.
Que lindo!!!é tão bom recordar a nossa infância. Eu também tenho recordações cheias de sabores:)
Gostei muito!!!
Gostei muito!!!
Que lindo!!!é tão bom recordar a nossa infância. Eu também tenho recordações cheias de sabores:)
Tenho 70 anos, vivo no Brasil desde os 7. Minha mãe fazia esses rojões. Maravilhosos! Eu mesma, só os fiz uma vez, lembram-se meus filhos, encantados. Já não me lembrava e não me lembrava da receita corretamente. Agora vou fazê-los. E tens razão: fazem muito mal, mas um dia não são dias, como também diria minha mãe. Muito obrigada!!!