O meu filho só se poderia chamar José. José como o pai, algo que nem todos sabem, porque o conhecem como Miguel quando na realidade ele se chama José Miguel. Mas principalmente José como o meu avó paterno. Um avô que partiu cedo demais, e que por isso não conheceu o meu marido, não foi ao meu casamento, com quem não pude partilhar os meus livros e que não conhecerá o bisneto que tem o seu nome.
O meu filho é José como o bisavô que escrevia mensagens nas barricas de vinho da adega, e que nos queria convencer a todo o custo que tinham sido deixadas por um admirador secreto. Ou que nos levava à pastelaria e nos comprava ovos kinder, chocolates jubileu ou “cachitos”. Que nos deixava “mergulhar” dentro das arcas onde o milho debulhado estava guardado, e que nos levava a dar água à vaca, a ver os coelhinhos ou a brincar com os pintainhos que cresciam debaixo da lâmpada na “casa do forno”. Um avô que fazia tudo para nos ver felizes, a mim e à minha irmã, a quem chamava “as minhas riquezas”.
Por isso o meu filho só se podia chamar José. Em homenagem ao meu avô e ao melhor marido do mundo, o meu.
E hoje há uma receita de pudim de abóbora, uma receita que a minha avó Celeste, a minha avó paterna e casada com o meu avô Zé, gostava muito. Ela que também faltou em muitos momentos da minha vida, e que também não conhecerá o bisneto. A avó de quem eu herdei o mau-feitio e com quem partilho o mês de aniversário.
Os avós que me faltam a mim e os bisavós que faltam ao meu filho unidos num nome e numa receita de pudim!
Ingredientes:
500g de abóbora limpa cortada em pedaços
50g de coco
1 pau de canela
4 ovos
400g de açúcar (eu só usei 300g e mesmo assim ficou bastante doce)
1 colher de sopa de maisena
50g de margarina
1 colher de chá de essência de baunilha
100g de açúcar para o caramelo
Preparação:
Com os 100g de açúcar fazer o caramelo e forrar a forma de pudim. (Eu costumo colocar o açúcar na forma e colocar a forma diretamente no bico do fogão até o açúcar caramelizar e depois, cuidadosamente espalhar pela forma.)
Entretanto coza a abóbora em água juntamente com um pau de canela. Depois de cozida escorrer bem e passar com a varinha mágica até obter um puré.
À parte junte a maisena com o açúcar e o coco ralado. Junte estes ingredientes secos ao puré de abóbora, misture bem e adicione depois os ovos, a baunilha e a margarina derretida. Mexa muito bem para incorporar tudo e coloque a mistura na forma caramelizada. Tape a forma com a tampa e coloque-a na panela de pressão com água até metade da altura da forma. Tape a panela de pressão e cozinhe cerca de 30 minutos, em lume brando, depois da panela começar a libertar a pressão.
Desligue ao fim desse tempo e deixe a panela arrefecer para a pressão descer. Abra depois a panela e retire a forma. Coloque o pudim (dentro da forma) no frigorífico e deixe arrefecer bem – de preferência de um dia para o outro – antes de desenformar o pudim para o prato de servir.
Bom Apetite!
15 respostas
Esse pudim está maravilhoso, e com uma história dessas por trás ainda sabe melhor!
beijinhos 🙂
Querida Joana,
O pudim parece-me maravilhoso, já sei que fazer á abóbora que os sogros ofereceram. E as homenagens por detrás da história e da receita de hoje deixaram-me de lágrima nos olhos. É rara a vez que não consegue comover-me ou arrancar-me um sorriso, através daquilo que partilha connosco. É que até parece (pelo menos eu sinto assim) que as receitas têm "mais consistência", uma parte emocional que lhes dá uma relevância especial e que nos dá uma maior vontade de ir para a cozinha "pôr as mãos na massa".
Um bom fim de semana para si e para os seus,
Raquel
Que óptima ideia para cozinhar os quilos de abóbora que me têm chegado à cozinha!
Que belo aspecto!
Beijinhos,
http://sudelicia.blogspot.pt/
Tem uma aparencia divina.
Linda história, maravilhosa receita. Sim… O José Maria tem um lindo e doce nome. ( e pronto… Começo o dia com a lagriminha no olho). Bom fim de semana! E obrigada por estas partilhas.
Maravilhoso o teu pudim, tal como a tua história! 😉
Beijinhos doces e bom fim de semana.
Joana, que linda homenagem fizeste aos nossos Avós, especialmente ao Avô Zé. Ele estaria tão feliz e tão orgulhoso de ti, de nós, por tudo o que alcançámos e fizemos da nossa vida. O teu filho pode não o conhecer fisicamente, mas certamente que o espírito do Avô, encarnado no Pai e em nós vai certamente fazer parte dele… Eles vêem-nos e estão felizes connosco certamente.
Um beijo,
Mariana
Lindo, tocante.
Uma bela homenagem sem dúvida e nada como a cozinha para perpetuar, memórias, tão doces.
Beijinhos
Romã:*
Chorei, porque eu sei como é ter um filhote e não poder conviver com os meus avós, uma linda homenagem, Joana espero que esteja a correr td bem com o seu bebe!um bjinho e bom domingo
As receitas de família que acompanham a história de várias gerações são sempre as melhores 🙂
Não tive avós para acompanhar o meu crescimento, talvez por isso as pessoas mais velhas me suscitavam tanto interesse.
De certeza que o José vai saber quem foi o avô, pelas histórias que lhe serão contadas 🙂
Bom domingo!
Lá vou ter de experimentar…
Já sigo o seu blog há algum tempo, não tendo resistido também a adquirir os seus três livros; quer os livros, quer o blog são os meus destinos quando quero fazer alguma receita que ainda não sei bem o quê… Também sou de Coimbra e uma das razões pelas quais gosto das suas sugestões é que não têm ingredientes "esquisitos" que só se arranjam em Lx (no Martim Moniz, ou num armazém chinês nos arredores).
No entanto nunca tinha feito aqui nenhum comentário. Hoje não resisti, porque os meus avós (felizmente ainda vivos) se chamam José e Celeste. Apenas uma daquelas coincidências… Mas é de facto uma pena que os seus avós não possam conhecer o bisneto; os meus ficam embebecidos por qualquer traquinice feita pelo meu filho (com dois anos). E já não é a mim que querem ver, mas ao "menino"!
O testamento já vai longo, apenas completo dando-lhe os parabéns pelo blog, pelos livros e, já agora, pelo Zé Maria.
Uma boa semana (cheia de novas receitas),
Rita Almeida
Joana, gostei da sugestão e adorei a introdução 🙂 Bjinhos!
Mesmo tocante!Lindo de ler..é esta receita que farei no Natal…Boa continuaçao..